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O Mercado de Trabalho de TI ainda dá pé?
 
Diariamente recebo vários emails e frequento alguns Foruns onde percebo que cada vez mais profissionais de TI estão em busca de orientação quanto a sua carreira, seja por estarem fora do mercado de trabalho, seja para conquistar uma melhor colocação/remuneração.
Pois bem, decidi abordar um pouco esse assunto do meu ponto de vista, como profissional de TI que enfrenta no dia-a-dia alguns dilemas.
 
O primeiro grande equívoco que vejo sobretudo nos mais jovens e "marinheiros de primeira viagem" é achar que trabalhar com TI é algo comparável a ganhar dinheiro jogando videogame.É óbvio que para alguns ter contato com tecnologia e atuar profissionalmente em uma área que "está na moda" por si só já é gratificante mas lembre-se nem tudo são flores...
 
O profissional de TI deve antes de mais nada estar antenado com o mundo da tecnologia, conhecer a fundo as ferramentas disponíveis num dado instante não é o suficiente, o profissional deve procurar conhecer o que vem pela frente, acompanhar sua evolução e estar preparado para sua aceitação.Isso exige alto investimento, seja de tempo, seja de recursos financeiros, aqui temos o primeiro grande dilema dessa carreira, o investimento nem sempre resulta em retorno posterior.
 
No passado ser auto-didata era o suficiente para se conseguir uma boa colocação, hoje o mercado não está disposto a correr o risco de contratar um profissional "bom de papo", ele quer garantias que está contratando um profissional qualificado para a função que deverá exercer, como sempre aí surge um novo mercado, o Mercado da Formação.
 
Hoje esse mercado é muito bem explorado, cursos de especialização, cursos preparatórios para certificações, cursos universitários mais direcionados ao campo de atuação, enfim, prepare-se para reservar no mínimo 30% de seus recursos para se especializar.Quero deixar claro que não me posiciono contra o Mercado da Formação mas questiono sim a relação custo X benefício para obter esse conhecimento.
 
Quem nunca passou pela experiência ou conhece alguém que fez um Curso de Informática e ao final deste não aprendeu o desejado? Quero aqui ratificar que a culpa pode ser do indivíduo que está frequentando o curso ou da entidade que está ministrando o curso.É fato que alguns cursos não preparam o profissional para o que ele irá encontrar no mundo real, portanto, cuidado com promessas milagrosas de se tornar um Expert em Banco de Dados fazendo um cursinho de DBA numa entidade qualquer.
 
Lembre-se, concluir um determinado curso não significa dizer que você está pronto para o mercado de trabalho, devemos ter em mente que um bom curso nos dará uma base sólida de conhecimento, mas só após passar por inúmeros projetos, transpor diversos obstáculos e atuar em diferentes cenários estaremos mais próximos do ideal, ou seja, a prática e a experiência ainda são pontos fundamentais para o sucesso profissional.
 
Mas afinal, o que é mais importante, a Formação Acadêmica ou a Experiência Profissional?
Embora possa parecer simples, na prática a resposta à esta questão é a causa de muitos profissionais hoje estarem com dificuldade para entrar ou se recolocar no mercado de trabalho, é fato que as empresas buscam profissionais com ambas mas em um país onde as desigualdades sociais são tantas é difícil um grande número de profissionais que atendam a todas as exigências, como agravante na TI temos o fator de obsolescência tecnológica elevada, ou seja, ao término de formação em uma determinada tecnologia não é improvável que esta já esteja ultrapassada.
 
O mercado está absorvendo tecnologia cada vez mais rápido e acompanhar todo esse processo não é tarefa para qualquer um, além do investimento em formação que comentei anteriormente, existe o investimento de tempo, que envolve privação do lazer, da família, do descanso. Muitos de nós chegam ao ponto de questionar "Será que vale realmente a pena levar uma vida assim?"
Gostaria que você refletisse antes de responder a essa pergunta. Conheço muitos profissionais que buscaram outros ramos de atividade para atuar profissionalmente pois não aguentavam mais passar noites em claro trabalhando ou aprendendo uma nova tecnologia, não acompanhando o crescimento de seus filhos, perdendo o contato com amigos e familiares, problemas conjugais, enfim, momentos simples mas essenciais à manutenção do organismo humano.
 
Bom, aqui vou abordar outra questão polêmica, falaremos de Remuneração.Todo investimento objetiva um retorno, essa é a máxima que deveria reger todo o mercado de trabalho mas.......E tem sempre um mas.......Nem sempre funciona assim.
 
No meu contato diário com colegas de trabalho observo um certo descontentamento geral, realmente são poucos os profissionais que estão plenamente satisfeitos com suas posições atuais.Aqui acredito reinar a famosa "lei da oferta e da procura", hoje Informática está na moda, a evolução tecnológica dos componentes de hardware e software possibilitou que mesmo pessoas com conhecimentos rudimentares possam resolver seus problemas sozinhas e isto é ótimo ou não? Aqui temos os dois lados de uma mesma moeda, se um indivíduo é capaz de consertar seu computador sozinho é ótimo para ele pois não depende de um Técnico para resolver seu problema, por outro lado o Técnico perdeu um cliente.Aqui muitos irão dizer... "problema do técnico ué!!!"
Bom, quando o indivíduo acima se restringe a consertar seu próprio computador, realmente não vejo contra-argumento mas e quando esse indivíduo passa a se "auto" nomear Técnico e se lança no mercado de trabalho?
Isto significa que profissionais devidamente qualificados que investiram seu tempo e dinheiro em formação e depois de muitos anos conquistaram a tão valorizada experiência simplesmente estão concorrendo com esses pseudo-técnicos, é óbvio que um profissional experiente tem um custo X e um profissional "aventureiro" tem um custo X/2 (metade de X), infelizmente a grande maioria de nós brasileiros priorizamos o fator custo em detrimento do fator qualidade, seja por cultura, seja por condição financeira.
O Mercado já observou isso e passou a explorar esse cenário à seu favor, por isso hoje exige-se muito e remunera-se pouco, para transpor alguns desses obstáculos o profissional muitas vezes se sujeita a extensas jornadas de trabalho, é obrigado a absorver mais informação em menor período de tempo e nem sempre isso é o suficiente.Agora imagine, com os salários cada vez mais baixos, a tecnologia evoluindo cada vez mais, tecnologias novas, cursos diversos de especialização mais caros como acompanhar esse mercado?
Essa é uma pergunta que cada profissional ou aspirante a profissional de TI deve se fazer constantemente, como mencionei anteriormente conheço muitos profissionais excelentes que simplesmente jogaram tudo pro alto e mudaram sua profissão, aqui gostaria de salientar que a desvalorização dos profissionais de TI é um efeito causado por diversos fatores e não se restringe única e simplesmente a concorrência, estou procurando apenas apontar os mais relevantes.
 
Para ilustrar o que quero dizer vou contar a minha história profissional, comecei a trabalhar com computadores em medados dos anos 80, minha formação em Eletrônica me forneceu a base sólida para atuar na manutenção de hardware, eu como Técnico de Hardware e somente com isso conseguia ganhar um bom dinheiro sem tocar no Sistema Operacional do computador, tente imaginar um técnico hoje que só põe a mão no hardware, não instala Windows, Drivers, não configura rede nem instala a impressora, ele morre de fome!
Mas claro, era uma época diferente, os profissionais eram especialistas naquilo que faziam e não generalistas como hoje mas veja como eram as coisas naquela época:
Quando digo que era Técnico de Hardware e só colocava a mão no hardware quero dizer que reparava placa e componentes eletrônicos, quando uma placa apresentava defeito eu a consertava, digo, troca de capacitores, diodos, resistores, cristais osciladores, PLL's, áquela altura a tecnologia SMD ainda não imperava nos eletrônicos como hoje.
Quando instalava uma placa de fax-modem por exemplo, havia configuração de jumpers, remoção de conflitos de I/O, IRQ, DMA (Ahhh..aqueles velhos barramentos ISA de 8 BITs e os baramentos LC dos Macs), muitos técnicos eletrônicos da época fizeram como eu e entraram de cabeça nesse novo mundo da Eletrônica, senti necessidade de me aperfeiçoar mais, passei a estudar sistemas operacionais, na época DOS, Unix e System (hoje MacOS), com exceção do System tudo era via linha de comando (que delícia me embranhar nas sintaxes dos comandos na tela verde dos monitores da época).
Começaram a surgir então as redes de computadores no Brasil, na época um poderoso (para a época) servidor Mainframe e vários terminais burros conectados através de linhas seriais RS-232C ou RS-422 via placas de interface Cyclades, depois vieram as redes coaxiais (BUS ou Barramento), essas redes requeriam um cuidado extremo com a conectorização e terminação da impedância do cabo nas extremidades, e quando a rede caia tinha que vasculhar cada terminal a fim de encontrar o "node" problemático, isso mesmo, se um terminal caísse toda a rede era paralisada.Finalmente vieram as primeiras redes com topologia Estrela e cabos UTP, tecnologias como Plug & Play, queda no preço das placas sendo mais viável sua completa substituição em caso de defeito, e porque não falar da evolução que foi o Windows 3.11 for Workgroups, modems mais rápidos 14.400bps e a Internet para uso comercial, Windows 95, Linux, ERP's, etc.
 
Se analisar esse histórico você irá perceber que a evolução trouxe facilidade, o que antes era complexo e exigia conhecimento passou a ser "Faça você mesmo" e assim chegamos ao estágio da tecnologia atual.
 
É notório que hoje todos compartilhamos o conhecimento, a Internet é uma fonte inesgotável de informação e a cada dia fica mais disponível para pessoas de todas as classes sociais, os conhecimentos sobre tecnologia não mais se restringem a uma minoria provida de QI's altíssimos, no dia-a-dia encontramos cada vez mais pessoas debatendo sobre celulares, câmeras digitais, palmtops, computadores, Windows, Linux, programação e o que aparecer de novo no mercado.
 
Se você deseja realmente entrar de cabeça na área de TI esteja ciente que deverá estar constantemente atualizado, que deverá investir muito para se especializar, deverá trabalhar várias horas por dia e talvez atravessar a noite toda, deverá muitas vezes possuir maturidade suficiente para debater a solução de um problema com um gerente ou usuário com conhecimentos superficiais e talvez não tenha o devido retorno.Mas esteja ciente também que trabalhar com TI acima de tudo é uma arte, é para indivíduos que gostam de uma atividade dinâmica que sempre lhe oferecerá desafios, oportunidade de explorar seu potencial a níveis nunca antes imaginados por você, e esse meu amigo, é o melhor retorno que podemos ter.
 
Para finalizar este artigo gostaria de dar uma dica aos colegas, pois aqui abordei a visão de um profissional de TI mas não devemos esquecer que todo nosso trabalho é inútil se ninguém utilizá-lo, e na outra ponta temos os Usuários, indivíduos para os quais todo nosso trabalho é direcionado.Percebo que alguns "colegas de trabalho" se consideram os verdadeiros donos da verdade, detentores de um conhecimento intangível para seres humanos comuns e muitas vezes tratam com desrespeito e até agressividade os usuários.Lembrem-se que nós temos obrigação de dominar a tecnologia simplesmente porque somos profissionais de tecnologia, os usuários empregam tecnologia para executar seu trabalho no dia-a-dia, mesmo nós somos usuários de alguma tecnologia e também dependemos de suporte algumas vezes, só com respeito e compreensão iremos aos poucos eliminar a imagem ruim que muitas vezes inconscientemente deixamos para nossos usuários.
 
Denis Squillante (tudobr@yahoo.com.br)
Profissional de TI há mais de 16 anos com sólida experiência em Hardware, Redes de Computadores e Sistemas Operacionais.